Compreender os tumores neuroendócrinos
Saiba mais sobre tumores neuroendócrinos, incluindo onde se desenvolvem, fatores de risco, diagnóstico e progressão da doença.








Os tumores neuroendócrinos (TNE) são um conjunto de neoplasias que surgem a partir de células secretoras especializadas, conhecidas como células neuroendócrinas, distribuídas por todo o corpo. Estas células recebem mensagens (sinais) do sistema nervoso e respondem produzindo e libertando hormonas, bem como, proteínas que podem servir como biomarcadores para os TNE. 1a 2
As células neuroendócrinas podem ser encontradas predominantemente em três áreas principais: 1b 3 4a
Células neuroendócrinas isoladas, dispersas pela maioria dos tecidos, como por exemplo nos tratos respiratório e digestivo (sistema endócrino difuso)
Agregados de células neuroendócrinas inseridos no tecido glandular, tiroideano ou pancreático (ilhéus pancreáticos)
Glândulas endócrinas como: hipófise, paratiroides e suprarrenal.
Os TNE são classificados de acordo com a sua origem anatómica, sendo a maioria originária dos tratos gastroenteropancreático ou broncopulmonar (TNE-GEP e TNE-BP), respetivamente.
Os TNE são subclassificados de acordo com as divisões embrionárias do tubo digestivo: 4b 5a
Os TNE não só diferem no seu local anatómico, como também podem variar em termos de diferenciação, grau e estádio.
Diferenciação
A diferenciação refere-se ao grau de semelhança entre as células tumorais e as células saudáveis do tecido de origem. As células do cancro bem diferenciadas são muito semelhantes às células não neoplásicas. Em geral, os tumores de baixo grau (graus 1 e 2) são bem diferenciados e os tumores de alto grau (grau 3) são pouco diferenciados.5b
Grau
O grau (G) histológico atribuído aos TNE reflete a agressividade biológica da neoplasia: G1, G2 ou G3.5c
Os tumores de grau mais elevado estão geralmente associados a um prognóstico desfavorável para os doentes.
Por norma, os TNE bem diferenciados são classificados como G1 ou G2; já os tumores pouco diferenciados (chamados carcinomas neuroendócrinos [CNEs]) são classificados como G3.4c
Estádio
O estádio refere-se à extensão da disseminação do tumor pelo organismo. Os TNE podem ser considerados numa fase inicial (completamente ressecáveis) ou numa fase avançada (localmente avançados e irressecáveis ou metastáticos).5d
Até à data, a causa exata dos TNE é desconhecida, sendo que a grande maioria ocorre de forma esporádica. Alguns fatores de risco são:6
Quando os TNE causam sintomas clínicos devido à hipersecreção de hormonas, são denominados "funcionais".
No entanto, a maioria dos TNE não produz uma hormona biologicamente ativa e são chamados "não funcionais". Assim, caso os sintomas ocorram, costumam ser vagos e pouco específicos: 4d 5e 7
Sintomas geralmente associados aos TNE-GEP:
Sintomas geralmente associados aos TNE-BP:
Existem várias ferramentas, métodos e técnicas de imagiologia utilizadas para diagnosticar os TNE.
Apresentação do doente: 5f Geralmente iniciada pelos sintomas relatados pelo doente, incluindo, com frequência, dor abdominal e alterações nos hábitos intestinais
Histologia: Avaliação histológica do tecido tumoral biopsiado. A análise microscópica com técnicas de coloração com hematoxilina e eosina (HE) é usada para determinar a diferenciação tumoral 8a
Bioquímica: São avaliados biomarcadores específicos para os TNE, tais como 4e 5g
Imagiologia anatómica: Podem ser utilizadas várias técnicas de imagiologia, como tomografia computadorizada, ressonância magnética, ultrassonografia endoscópica e endoscopia 4f 5h
Imagiologia dos recetores da somatostatina: Estes exames desempenham um papel central no diagnóstico e acompanhamento dos doentes. A maioria dos TNE GEP e BP apresenta hiperexpressão de recetores da somatostatina. A imagiologia dos recetores da somatostatina utiliza análogos da somatostatina radiomarcados, que se ligam aos recetores nas células TNE. A molécula radioativa (frequentemente o Gálio-68) permite uma imagiologia precisa da localização e tamanho do tumor. 9a
O objetivo principal do tratamento é a cirurgia curativa, no entanto, geralmente está ao alcance apenas de uma minoria dos doentes. Para os restantes, o tratamento visa gerir os sintomas, prevenir o crescimento do tumor e prolongar a sobrevivência.
Vários tratamentos podem ajudar a alcançar estes objetivos, tais como: 4g 5i
Doença Localizada
Doença metastática
A progressão da doença nos TNE-GEP tem um impacto profundo na sobrevivência e na qualidade de vida dos doentes. Apesar do seu crescimento normalmente lento, a maioria dos TNE-GEP pode progredir mesmo com tratamento, podendo levar à morte. O risco de progressão e de morte em doentes com TNE-GEP metastáticos aumenta com o tempo.10a
Identificação da progressão da doença
A identificação da progressão é essencial para ajudar a melhorar os resultados dos doentes, podendo oferecer uma oportunidade para modificar as estratégias de tratamento. Na prática clínica, vários fatores podem ser considerados para determinar o momento para ajustes terapêuticos, incluindo os seguintes: 8b 10b
Avaliação da carga tumoral
Avaliação da toxicidade relacionada com os fármacos
Monitorização e abordagem dos sintomas relacionados com o cancro
Avaliação clínica e expertise do profissional de saúde
Sintomas recorrentes ou que se agravam podem indicar progressão em doentes com TNE-GEP. Estes sintomas podem resultar de um aumento da carga tumoral ou da secreção de substâncias bioativas por tumores funcionais. A avaliação destes sinais e sintomas pode sugerir a progressão da doença, levando à necessidade de exames de imagiologia e outros testes laboratoriais. 9b 11 12 13
Saiba mais sobre a identificação da progressão dos tumores neuroendócrinos — incluindo a avaliação da progressão e guidelines relevantes
5-HIAA, ácido 5-hidroxi-indolacético
CgA, cromogranina A
G, grau
HE, hematoxilina e eosina
CNE, carcinomas neuroendócrinos
PRRT, terapêutica com péptidos marcados com radionuclídeos
RLT, terapêutica com radioligandos
SSA, análogos da somatostatina
SSTR, recetor da somatostatina
TNE, tumores neuroendócrinos
TNE-BP, tumores neuroendócrinos broncopulmonares
TNE-GEP, tumores neuroendócrinos gastroenteropancreáticos
1a 1b Canadian Cancer Society. What are neuroendocrine tumours? Accessed July 19, 2024. https://cancer.ca/en/cancer-information/cancer-types/neuroendocrine-tumours
2 Kidd M, Modlin IM, Bodei L, Drozdov I. Decoding the molecular and mutational ambiguities of gastroenteropancreatic neuroendocrine neoplasm pathobiology. Cell Mol Gastroenterol Hepatol. 2015;1(2):131-153. doi:10.1016/j.jcmgh.2014.12.008
3 Herrera-Martínez AD, Hofland J, Hofland LJ, et al. Targeted systemic treatment of neuroendocrine tumors: current options and future perspectives. Drugs. 2019;79(1):21-42. doi:10.1007/s40265-018-1033-0
4a 4b 4c 4d 4e 4f 4g Oronsky B, Ma PC, Morgensztern D, Carter CA. Nothing but NET: a review of neuroendocrine tumors and carcinomas. Neoplasia. 2017;19(12):991-1002. doi:10.1016/j.neo.2017.09.002
5a 5b 5c 5d 5e 5f 5g 5h 5i Raphael MJ, Chan DL, Law C, Singh S. Principles of diagnosis and management of neuroendocrine tumours. CMAJ. 2017;189(10):E398-E404. doi:10.1503/cmaj.160771
6 Leoncini E, Carioli G, La Vecchia C, Boccia S, Rindi G. Risk factors for neuroendocrine neoplasms: a systematic review and meta-analysis. Ann Oncol. 2016;27(1):68-81. doi:10.1093/annonc/mdv505
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10a 10b Merino-Casabiel X, Aller J, Arbizu J, et al. Consensus document on the progression and treatment response criteria in gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Clin Transl Oncol. 2018;20(12):1522-1528. doi:10.1007/s12094-018-1881-9
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12 Pape UF, Perren A, Niederle B, et al. ENETS Consensus Guidelines for the management of patients with neuroendocrine neoplasms from the jejuno-ileum and the appendix including goblet cell carcinomas. Neuroendocrinology. 2012;95(2):135-156. doi:10.1159/000335629
13 Grozinsky-Glasberg S, Grossman AB, Gross DJ. Carcinoid heart disease: from pathophysiology to treatment--'something in the way it moves'. Neuroendocrinology. 2015;101(4):263-273. doi:10.1159/000381930
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